Casa d’ Avó

BPI_1301É uma espécie de aldeia no meio da cidade. Há prédios em volta, mas damos por nós numa quinta com árvores de fruto, couves, alfaces e muito mais. Onde se ouve cantar o galo. Bem-vindos à Casa d’ Avó, de José Pedro Cruz, 31 anos e muita vontade de meter as mãos na terra.

É à sexta-feira que José Pedro faz entregas. Em Coimbra, Lousã e Lisboa (vai à capital pelo menos duas vezes por mês). Se em janeiro os sacos continham clementinas, tangerinas, tangerinolas e limões, por estes dias enchem-se de favas, alfaces e couve lombarda. Só vende produtos da época. Ali, vigoram os princípios da agricultura biológica. Cada planta cresce ao seu ritmo.

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No fundo, o jovem agricultor está a fazer o mesmo que o falecido avô já havia feito, por outros meios. “Em tempos idos, esta quinta abastecia de citrinos dois ou três minimercados da zona. Hoje, a concorrência é elevadíssima, porque se produz de formas extremamente agressivas. Mas, tentando primar por uma qualidade diferente, talvez se consiga qualquer coisa”, conta.

O biológico ao alcance do comum mortal

Tornar a agricultura biológica “acessível ao comum mortal” é o objetivo, graceja José Pedro. Por isso, pratica preços que considera simpáticos, embora não sejam os praticados pelas grandes superfícies.

Por exemplo, um quilo de couve lombarda e de alface custa 2 euros. Se falarmos de limões, esse valor desce para 1,30 euro. E, no caso das favas, para 1,25 euro. O tamarilho custa 2,50 euros por quilo e por 0,75 euro leva-se 15 gramas de louro verde. Na terra estão já pimentos, tomates, cebolas, courgettes, morangos, meloa e alho francês. Para saborear mais adiante.

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Plantar cenouras, alfaces ou cebolas na varanda é possível, graças às hortas urbanas, outra ideia de José Pedro Cruz, que construiu recipientes para esse efeito a partir de paletes de madeira que iam ser destruídas. “Em conversa, toda a gente contava que gostava de ter [hortas em casa], mas não tinha tempo ou espaço. Foi uma tentativa de criar esse espaço e ensinar qualquer coisa às pessoas”, explica.

Desemprego: depois do choque, a ideia

Esta não foi sempre a vida de José Pedro Cruz, que tem formação superior em Engenharia Mecânica e, até setembro, dava aulas de Mecânica Automóvel numa escola secundária. Só começou quando se viu desempregado. Depois do choque, veio a ideia: por que não tornar-se agricultor, resgatando do esquecimento a quinta dos avós?

O terreno estava “semiabandonado”, reconhece. Só uma pequena porção era cultivada pela família, para autosustento. Num dia em que a motoenxada estava a dar problemas ao pai, José Pedro foi ajudá-lo e decidiu passar do pensamento à ação. “Comecei devagarinho, por favas. E daí em diante fui explorando cada vez mais”.

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Foi preciso cortar ervas, arrancar as árvores (por serem em demasia, com a sua sombra, prejudicavam a produtividade), ler sobre agricultura. E criar a página do Facebook onde recebe as encomendas.

“Vamos tendo aprendizagens diárias. Nunca pensei que fosse assim. Dá muito trabalho, mas é gratificante”, assegura o jovem agricultor. “Eu sei que, se me levantar de manhã e regar, dentro de 15 dias, tenho plantas para vender. Tenho algum controlo sobre o meu trabalho. No ensino, podemos trabalhar muito, mas o alcance nem sempre depende de nós”.

Texto de Carina Fonseca
Fotografia de Bruno Pires

(Pulbicado a 19 de Maio de 2014)

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