Gravidade

GRAVITY

Todos nós, habitantes do planeta Terra, já nos questionámos sobre como será estar no Espaço. Todos nós já olhámos para o céu e através da imaginação tentámos construir uma imagem de como o nosso planeta se vê do lado de fora. Com o filme “Gravidade” (“Gravity”) essa tarefa torna-se bem mais fácil.

Realizado por Alfonso Cuarón (“E a tua mãe também”, 2001; “Os filhos do Homem”, 2006), este filme proporciona o embarque numa viagem espacial digna de ser feita. Por vezes claustrofóbico, mas sempre surpreendente e emocionante, “Gravidade” consegue prender os espectadores na cadeira do início ao fim. E se sentimos falta de alguma coisa, é sem dúvida de um cinto de segurança, objecto que acaba também por ganhar nova dimensão utilitária.

Começando com uma breve e eficaz introdução que nos remete para as condições de vida no Espaço, onde não há oxigénio, pressão atmosférica, nem som, esta é uma história sobre os limites da sobrevivência. A missão espacial STS-157 encontra-se 600km acima da Terra a realizar trabalhos de manutenção ao telescópio Hubble. Dois astronautas compõem esta missão: a estreante Dr.ª Ryan Stone (interpretada por Sandra Bullock) e o veterano Matt Kowalski (interpretado por George Clooney). Já perto da conclusão dos seus trabalhos e portanto, do regresso a casa, o inesperado acontece. Uma tempestade catastrófica de destroços de um satélite destrói toda a missão e os dois protagonistas ficam completamente sozinhos e à deriva no Espaço, sem comunicação com a Terra.

Com um argumento simples, mas consistente, o que impressiona aqui é a experiência visual que obtemos. Louve-se desde já o trabalho de fotografia de Emmanuel Lubezki. Gravitando ao mesmo tempo que os personagens, somos brindados com imagens maravilhosas da Terra, do Universo e das plataformas espaciais. Os pormenores são tão perfeitos que parece que o filme foi rodado lá, na vastidão sem limites. Sentimos toda a beleza arrebatadora, mas sentimos igualmente o silêncio, a falta de oxigénio, a dificuldade em respirar, o horror da solidão e do vazio, o drama da salvação.

As personagens têm um lado psicológico que é explorado e que proporciona a ligação com os espectadores, principalmente a Dr.ª Ryan Stone. Não sabemos se essa é a intenção de Alfonso Cuarón, mas pode existir uma excelente metáfora entre o drama vivido pela personagem de Sandra Bullock (que perdeu uma filha) e a sua derradeira oportunidade de se agarrar à vida. Acompanhamos a sua luta, quer emocionalmente, quer através do som ofegante (devido à dificuldade em respirar) que recebemos directamente do interior do seu capacete.

Muitas reflexões são possíveis após ver “Gravidade”, mas uma coisa é certa: é difícil colocar em palavras certeiras as sensações e deduções pelas quais passamos durante os noventa minutos de filme e provavelmente, outros tantos após sairmos da sala de cinema.

Independentemente de ser visto como um dos candidatos aos Óscares 2014, facto aliás que pouco nos diz sobre a qualidade de um filme, “Gravidade” é um ensaio absorvente e poderoso sobre a vida (possível) no Espaço.

Título: Gravity
Realizador: Alfonso Cuarón
Actores: George Clooney, Sandra Bullock
Ano: 2013

Texto de Carina Correia

(Publicado a 21 de Novembro de 2013)

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