Jogar até Fartar

BPI_7792Demos por nós, numa destas noites, em pleno bar Psicológico (no Estádio) a conhecer um grupo bem simpático de pessoas que se junta ali para jogar jogos de tabuleiro. Falámos com Alcides Fonseca, João Cotrim e Nuno Matos e ficámos a perceber como tudo acontece e quase tudo sobre jogos de tabuleiro. O que nos falta mesmo é saber jogar.

Os encontros realizam-se todas quintas-feiras à noite. Várias pessoas se juntam para jogarem jogos, enquanto vão bebericando e petiscando, quase sempre até a casa fechar, o que acontece pelas quatro da manhã.

Tudo começou, pelo menos para estes três jogadores, há um tempo atrás na loja de banda desenhada Dr. Kartoon, onde se reunia um grupo de pessoas que partilhavam o mesmo gosto pelo jogo de tabuleiro. Por um conjunto de razões, o espaço deixou de poder proporcionar este encontro e passou a realizar-se no bar Psicológico e também na Arte à Parte (aqui aos domingos). Entretanto, o evento dos domingos passou a ser escasso e a concentração agora é mesmo às quintas.

Este é um grupo aberto que, apesar de só ter divulgação no facebook, dá as boas vindas a qualquer um ou uma que queira dar largas à sua imaginação, destreza, concentração, raciocínio, rapidez, humor, sorte ou azar. Isto porque as capacidades exigidas aos jogadores variam de jogo para jogo. Há inúmeros jogos no mercado. Qualquer gosto que tenhamos, qualquer temática que nos faça vibrar, há um jogo que a representa. Seja de horror, de história, de ficção científica ou recriações de época, quase que é possível atender ao nicho mais pequeno que possamos imaginar.

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Importa aqui informar que existem duas grandes escolas de jogos de tabuleiro: os jogos americanos e os jogos europeus. Os europeus são mais abstractos e cerebrais. Ou seja, primeiro valoriza-se a mecânica do jogo, como ele funciona, e só depois a temática. As peças normalmente são cubos que representam algo e cabe unicamente ao jogador desenvolver as estratégias e as decisões necessárias para o seu percurso no jogo. Quase nunca existem dados para lançar e portanto, a sorte ou azar estão pouco envolvidos. Por outro lado, os americanos são menos abstractos, onde a temática vem em primeiro lugar e só depois a mecânica do jogo. As peças e o próprio tabuleiro são esteticamente mais desenvolvidos e cuidados, e existem dados e cartas que ditam as regras e o percurso do jogo em vez do raciocínio.

Esta grande divisão do tipo de jogo reflecte-se igualmente no seu público-alvo, sendo que há pessoas que preferem jogar uns em detrimento de outros. Contudo, existem ainda outro tipo de jogos. Os de cartas, que apesar de não usarem tabuleiro, estão dentro dessa categoria e os party games, que se jogam quando há muitos jogadores e quando o objectivo é mais a diversão.

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A duração dos jogos é também bastante variável. Há jogos que demoram meia hora e outros que demoram nove horas. Normalmente, às quintas-feiras, costumam jogar-se jogos que não excedam as duas horas, pois é uma noite em que se privilegia a variedade. Se se pretender jogar algum jogo mais demorado, combina-se um outro dia específico para o efeito. Numa quinta-feira aparecem em média de oito a dez pessoas, não sendo, curiosamente, sempre as mesmas. Numa quinta-feira que corra mesmo bem, chegam a estar 30.

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Segundo o que os nossos entrevistados desabafaram connosco, Coimbra ainda não tem uma verdadeira tradição de jogos de tabuleiro como já existe, por exemplo, em Lisboa e no Porto. Mas a ideia é caminhar nesse sentido e estas quintas-feiras são prova disso.

Apostamos (palavra escolhida ao acaso) que alguns de vós ficaram com vontade de jogar e ir experimentar uma destas quintas. Nós fomos lá e jogámos. Perdemos, mas vamos voltar.

Texto de Carina Correia
Fotografia de Bruno Pires

(Publicado a 26 de Setembro de 2013)

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