A Segunda Vida de Camille

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Esta semana escolhemos falar sobre uma comédia dramática francesa. “A Segunda Vida de Camille” (“Camille Redouble” no original), realizado por Noémie Lvovsky, também actriz que encarna a personagem principal, estreou entre nós na 14ª Festa do Cinema Francês e desde o final de Novembro que está presente em diversas outras salas de cinema. Obteve 13 nomeações para os Césares 2013, nomeadamente de melhor filme, melhor realizador e melhor actriz.

Este filme possui um tom daqueles a que o cinema francês já nos habituou ao longo do tempo. Dividido entre a comédia e o drama, desperta em nós a mais sincera das gargalhadas, como o mais discreto lacrimejar. No início da narrativa, somos apresentados a Camille Redouble (interpretada por Noémie Lvovsky), uma mulher de 40 anos, actriz não muito bem-sucedida, no fim do seu casamento e com tendência para o consumo de bebidas alcoólicas. Apesar da filha que ama e a quem se dedica profundamente, Camille vive desiludida e triste com o percurso da sua vida.

Numa festa de passagem de ano, Camille bebe em demasia e acaba por perder os sentidos. Quando acorda, está numa cama de hospital e tem 15 anos de idade. Começa aqui aquela que vai ser a sua viagem de regresso ao passado.

O regresso a casa dos pais, ao liceu, o reencontro com as suas amigas, com o seu grande amor Éric (interpretado por Samir Guesmi), que se tornou seu marido mais tarde, são as experiências novamente vividas. Porém, Camille tentará mudar algumas acções do passado na perspectiva do seu futuro, que é o presente conhecido, ser diferente. Tenta evitar a morte da mãe que ocorre aquando os seus 16 anos, algo que percebemos ter sido uma marca profunda no seu coração, e tenta evitar a sua relação com Éric, imaginando que assim ele nunca a abandonará.

Algo curioso e digno de referência é o facto de as personagens principais terem o mesmo aspecto físico no passado e no presente, mudando unicamente as roupas usadas, neste caso, características dos anos 80. Nota-se aqui uma abertura das personagens, pois ao mesmo tempo que vão construindo as suas personalidades, é notório como já as têm bem definidas.

Na verdade, o que este regresso ao passado permite é a sua própria celebração. Camille percebe a importância de todas as pessoas e de todos os acontecimentos que fizeram dela a mulher que é. E dá-lhes um novo valor. Apesar de ficar claro que o passado não se pode alterar, o presente, esse sim, pode ser apaziguado. E todo este argumento serve também para nós, espectadores, fazermos este exercício de valorização do nosso passado, seja em que sentido for.

Este filme é sem dúvida, uma experiência diferente e aconselhável. Será que mudaríamos o nosso passado, se pudéssemos?

Título: Camille Redouble
Realizador: Noémie Lvovsky
Actores: Noémie Lvovsky, Samir Guesmi, Yolande Moreau
Ano: 2012

Texto de Carina Correia

(Publicado a 12 de Dezembro de 2013)

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