‘O tamanho’ de Rodrigo Oliveira

BPI_5648O tamanho relativo das coisas no universo e o efeito de acrescentar mais um zero é o nome da exposição de Rodrigo Oliveira no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra.

Trata-se de uma mostra belíssima, tanto quanto inquietante, e que reflecte o género característico do artista plástico Rodrigo Oliveira, no que diz respeito ao nível da reflexão que a mostra partilha com o receptor, e atendendo ao uso dos materiais a que o autor já nos habituou, especialmente as grelhas, as caixas e tintas acrílico, os feltros, as vitrines, as caixas de fósforos, entre outros meios físicos dos quais o autor se apropria para utilizar como meios artísticos. Para além destes dois atributos, devemos ainda ressalvar o facto de esta exposição nos dar a conhecer o amor que este artista nutre pela cor e pela palavra, ou pela ilusão (qualidade da cor) e pela poesia que, unidas, dão azo a formulações filosóficas que vão orientando a leitura do texto artístico que esta mostra consubstancia.

A fusão entre as formas, nas suas manifestações mais primárias e geométricas, as cores fortes e os textos resulta como um dos meios expressivos do artista que nos fala, neste caso para nos dizer sobre a civilização, a cultura e o meio onde se movem os homens, ou a cidade e a sua arquitectura. De facto, o pensamento sobre a civilização e sobre a arquitectura tem pertencido à obra de Rodrigo Oliveira que, com os seus trabalhos, nos revela as suas inquietudes sobre o homem. É sobre o homem, bem como a obra humana, que esta mostra nos fala, na torrente das suas realizações culturais e científicas que continuam a marcar e a transformar o mundo.

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Títulos como «O Intervalo entre um Gesto Simples e uma Questão de Método», ou «Ninguém Podia Dormir na Rede Porque a Casa Não Tinha Parede», «Intervenção localizada (Einstein Hause, 98°), ou «Disparo Directo (em linha recta)» iluminam-nos sobre o programa artístico que esta exibição encerra e que nos remete para o campo da teoria, da filosofia, da filosofia da ciência e, acima de tudo, para reflexão sobre o objecto em laboração: o homem nas suas construções culturais e artísticas, mas também nas suas construções científicas e civilizacionais.

O caminho que percorremos nas três salas de exposição do CAPC dão-nos a conhecer um ideário. Exemplo disso são as fachadas construídas com caixas de fósforos pintadas a tinta acrílica no interior de estruturas em madeira, «Ca(u)sas», produzidas entre 2011 e 2013, que emparceiram com a obra exposta na última sala, «Square (Monopólio)», realizada entre 2005 e 2011. Adivinha-se a existência de um fio condutor que estabiliza a teoria e a prática estética e artística, e que perpassa o trabalho do artista como uma realidade milimétrica que impressiona.

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A obra de janela, «O Intervalo [entre Civilização e Cultura]», que se conforma através de um texto recortado em vinil branco colado sobre o vidro, conjuga-se perfeitamente com esta esfera de preocupações que sobrepesam à exposição. E a palavra a branco dialoga com as cores que a afrontam, tornando a cor e a palavra numa só fonte expressiva, e fechando os directórios espaciais com os quais somos compelidos a encontrar-nos desde que entramos nos campos expositivos, até que deles nos libertamos, à saída, sentindo que fomos confrontados com uma reflexão que também a nós, e felizmente, inquietou. É este o grande feito que um artista pode realizar e é por isso que saímos do CAPC com o peito cheio.

Texto de Carla Alexandra Gonçalves
Fotografia de Bruno Pires

(Publicado a 5 de Setembro de 2013)

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